Sou o quarto de cinco. Cujo
destino mandou que fosse o terceiro dos quatro que continuam vivos.
Ele nos deixou ainda anjo. Antes de
me conhecer. Antes que eu pudesse vê-lo.
Aos noves meses, creio. Tornou-se
o fantasminha camarada.
Sim, chamava-se Gaspar, igual ao
avô paterno, e tinha apelido no diminutivo.
Fantasmas não são de todo mau.
Apenas querem continuar o que não puderam, entretanto são incompreendidos.
Assim como, muitos dos de carne e ossos vistos diariamente.
Querendo ou não, somos todos
fantasmas incompreendidos, incompreensíveis.
Fantasmas do sistema. Fantasmas da
realidade contemporânea. Buscando algo que não sabemos bem o quê ou para qual
finalidade a procura serve.
A busca é assim mesmo. A descoberta
é o combustível da vida. Somente sobrevive quem descobre. O descoberto apenas
sofre e observa. Suas riquezas são fracionadas e quando o fim chega os
fantasmas ressurgem.
O que fazer? Imagino que tentar
descobrir algo novo é o melhor caminho. Aprender. O aprendido e a única coisa
que não se pode tirar a força de um terceiro. A troca tem que ser recíproca.
Aprenda. Afaste os fantasmas. O
medo. Descubra como ser o fantasminha camarada e, além de tudo, descubra-se.