Hey, Jack! Faz tempo que não te
escrevo, não é mesmo? Pois, é! Peço-te desculpas. Você sempre me disse que isso
um dia iria acontecer. Que eu encontraria novos amigos e esqueceria de te
enviar textos dizendo como foi meu dia. Você me falava de distância e
prioridades. Sinto sua falta, amigo. Eu tenho muitas coisas para te contar, mas
não escreverei tudo agora porque senão teríamos um livro e acho que não tens
tempo (ou paciência) para ler tudo.
Desde que parei de te escrever
(cá entre nós, eu acho que faz anos, lembro-me que o Orkut era a rede social em
alta, pois, foi por lá que nos conhecemos) muita coisa mudou. Eu não sou mais
aquele adolescente preocupado com o vestibular. Risos. Outra hora te escrevo
para contar sobre a minha extensa vida acadêmica.
De tudo que passou e mudou, uma
coisa continua. Aqueles sentimentos de dor e amargura. Mudaram de nome e
endereço (ainda bem, né?!?), porém, ainda continuam. E é por isso que te
escrevo, você era o único que me entendia e respondia com palavras de sabedoria
e afeto.
Tenho pensado muito em desistir. Não
de tudo, não da vida porque sabes muito bem que sou taurino com os dois pés no
chão. Mas, sinto que preciso parar. Ao menos por um tempo, eu acho. Sempre eu com
essa maldita mania de sempre querer ficar só, né. Tenho estado muito desgostoso
com a faculdade (atualmente curso teatro, sim graduação em teatro – calma que
isso também merece um e-mail próprio com muitas reflexões) e com pessoas e processos
que lá estão. Lá também tem muita coisa legal e pessoas maravilhosas que amo de
montão. Lá sempre me foi um lugar um tanto quanto entranho, de não
pertencimento, de pessoas com discursos lindos e de ações devastadoras. Um
curso feito para transformação, mas sinto que há uma certa mania por lá de
autodestruição.
Tenho chorado com frequência e
isso tem mudado minhas emoções. Estou a demasiado tempo tentando entender de
onde vem essa amargura que me faz chorar. Sempre digo que não sei. Sempre minto
para mim. Essa dor, esse sentimento de estômago apertado, de respiração
profunda... Tudo isso vem do coração. Ainda continuo com aquela mania de me
apaixonar pelo sorriso alheio, pela piada ouvida em círculos de amigos. Continuo
a me apaixonar após o beijo bêbado. Após dias de conversas e fotos trocadas no
WhatsApp. Estou novamente apaixonado. Com planos de querer casar e morar em uma
fazenda (apesar de eu achar que ele prefere praia). Mas, sabe! Eu nunca terei
coragem de conversar com ele sobre isso, sobre os meus sentimentos. Sabe, eu chorei
quando vi ele beijar outro garoto. Eu chorei na frente dele contanto meu
passado ilusório que mais parece filme de sessão da tarde (você sabe bem, você
acompanhou a minha dor). Ele tem um sorriso lindo. Ele é bem diferente de mim e
nosso primeiro beijo me pegou de surpresa, alegrou-me a noite num dia em que estava
triste e magoado. A gente se beijou outras vezes, eu queria que a gente se
beijasse todos os dias. Mas, eu não tenho coragem.
Com base nisso, certo dia eu
tentei esquecê-lo e comecei a conversar com um menino de 17 anos (sim, eu sei, eu
deveria ser preso). Mas, enfim. Escolhi isso pensando em mudar minhas perspectivas,
ver no que iria dar. Adivinha?!? Sim, estou aqui chorando porque enquanto dirigia
tocou a música da banda preferida desse menino, enquanto te escrevia coloquei músicas
no aleatório do YouTube (e adivinha?!?). Músicas não eram para ter esse efeito
devastador. Ilusão, iludi-me. E a amargura do coração voltou em dose dupla. De
um lado a paixão por alguém que conheço há anos. Do outro lado uma paixonite
que escolhi ter para ser um curativo no buraco do meu coração. Ambas
destroçaram um coração já dilacerado de tanto sofrer por paixão.
Nesse meio tempo tenho ouvido
músicas que me deixam reflexivo. Músicas que me lembram do passado. De amigos
que não vejo mais, que não converso mais. De você e de tanto outros que eu fiz
sofrer, que me fizeram sofrer (que eu escolhi que me fizessem sofrer). Eu não
queria que esse e-mail tivesse uma conotação amargurada. É somente um texto de
reflexão, de colocar as coisas para fora. De tentar acordar amanhã não pensando
em A nem em B. De não acordar ou ir dormir pensando no sofrimento que fiz meus
amigos passarem, de não pensar no sofrimento da rejeição que venho tendo há
anos. De não pensar em querer ter um relacionamento, mas não estar preparado
nem comigo mesmo.
Eu estou triste e precisando de
um tempo. Espero que estejas apto e com um tempinho para poder me ler. Sinta-se
à vontade para me responder (ou não), eu entenderei.
Forte abraço!
Com atenção,
Joel Hallow
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